Paulo, o veterano apóstolo dos gentios está preso em Roma, acusado pelos seus compatriotas. Dessa prisão escreve sua carta aos filipenses, a missiva da alegria e da gratidão. Nessa epístola, ele desabotoa sua alma num jorro de gratidão àquela igreja que foi sua parceira no ministério, no que tange a dar e receber. No bojo da carta, faz uma retrospectiva, uma avaliação e uma estimativa. Vejamos:
Em primeiro lugar, uma retrospectiva quanto ao passado. Ao olhar para o passado, Paulo trouxe à sua memória aquilo que deveria esquecer. Muitas coisas aconteceram que não eram saudáveis para ser guardadas na memória. Como um discípulo de Gamaliel, tornou-se um destacado estudante do judaísmo. Projetou-se como um líder inconteste entre seus pares. Era zeloso da tradição de seus pais. Levantou-se como um temido adversário da fé cristã. Perseguiu com desmesurado rigor a religião do Caminho. Entrava nas casas e nas sinagogas para prender os cristãos e lançá-los em prisões. Ameaçava os crentes com tortura emocional e castigava-os com crueldade. Encerrou muitos dos santos em prisões e dava o seu voto para matá-los. Tornou-se uma fera selvagem e um touro indomável, que recalcitrou contra os aguilhões. Essas reminiscências precisavam ser esquecidas, uma vez que pelo sangue do Cordeiro já haviam sido apagadas. De igual modo, precisamos deixar no passado, o que já nos foi perdoado pela graça.
Em segundo lugar, uma avaliação quanto ao presente. Mesmo tendo a perfeição posicional (Fp 3.15), Paulo tinha plena consciência que ainda não havia alcançado a perfeição processual (Fp 3.12). Quanto à justificação, ele era perfeito; quanto à santificação buscava a perfeição. Essa é uma gloriosa verdade que precisa, também, ser entendida e acolhida pelos cristãos. Todos que foram escolhidos por Deus na eternidade, chamados eficazmente pela voz do evangelho e justificados pela fé, estão aos olhos de Deus perfeitos (Rm 8.30). Porém, na jornada entre a regeneração e a glorificação estamos buscando a perfeição, pelo processo da santificação. A santificação é glorificação iniciada e a glorificação é a santificação consumada. Nesse processo, somos transformados de glória em glória, na imagem de Cristo, pela ação do Espírito Santo (2Co 3.18). Deus nos predestinou para sermos conformes à imagem de seu Filho (Rm 8.29). Deus não apenas nos destinou para a glória, mas determinou nos transformar à imagem do Rei da glória.
Em terceiro lugar, uma estimativa quanto ao futuro. Tendo deixado, para trás, um passado sombrio e mesmo reconhecendo que era perfeito posicionalmente em Cristo, Paulo avança rumo ao alvo, na busca da perfeição processual (Fp 3.12-14). Aqueles que foram regenerados pelo Espírito Santo buscam as coisas lá do alto, onde Cristo vive. Anseiam pela glória de Deus mais do que pelas glórias do mundo. Buscam a semelhança com Cristo mais do que o desfrute dos mais finos prazeres da terra. Nessa busca, não se contentam com as dádivas da providência, querem o próprio Deus da providência. Não se satisfazem com as bênçãos, querem o abençoador. Não se satisfazem com coisas, querem Deus. Oh, que o mesmo anseio pulse também em nosso coração! Que nossos olhos estejam fitos em Cristo, o autor e consumador da nossa fé! Que nossa alma se apegue à glória porvir, em vez de se encantar com os brilhos fugidios deste mundo!
Que neste novo ano, possamos aprender com o apóstolo Paulo, fazendo uma retrospectiva para deixar no passado, as coisas do passado; fazendo uma avaliação do presente, para sabermos quem somos e para onde devemos ir; fazendo uma estimativa do futuro, para que, com celeridade, prossigamos para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus.
Rev. Hernandes Dias Lopes