Político honesto é um problema. É um problema para o sistema corrupto. E isso, desde as mais priscas eras. O livro de Daniel retrata bem essa triste realidade. Daniel foi um jovem íntegro e temente a Deus, um político incorrupto e eficiente, um líder sábio e corajoso, que jamais negociou seus princípios e valores. Ele foi primeiro-ministro na Babilônia e foi maior que a Babilônia. Esse grande império, mesmo com sua megalomania, caiu nas mãos do império medo-persa, mas Daniel permaneceu de pé. Ele foi grande na Babilônia e maior ainda no império medo-persa. Dario I o constituiu governador ao lado de outros dois governadores, para fiscalizarem os cento e vinte sátrapas espalhados em todas as províncias. O regime havia mudado, mas não a cultura da corrupção. No regime descentralizado do novo império, era preciso fiscalizar com mais rigor, para que as riquezas do império não caíssem no ralo da corrupção.
Inobstante esses cuidados preventivos, a corrupção continuou correndo solta. Por causa de seus predicados morais, o rei tencionava colocar Daniel acima dos outros governadores. Isso incomodou o sistema. A integridade de Daniel era uma pedra no sapato dos corruptos. Então o sistema começou a se mexer. Viraram a vida de Daniel pelo avesso. Reviraram seu passado. Investigaram seu presente. Devassaram sua vida. Abriram todos os cofres da sua história, apenas para constatarem que Daniel era um político honesto. Nada encontraram de errado para denunciá-lo. Sua vida era irrepreensível. Seu caráter era impoluto. Sua conduta era ilibada.
Então tramaram contra Daniel na sua vida religiosa. Foram ao rei Dario, cobrindo-o de bajulação. Propuseram ao rei ocupar o lugar da divindade por um período definido. Sabiam que Daniel sendo fiel ao seu Deus, jamais poderiam acusá-lo senão armando contra ele, na área de sua fé. Sugeriram ao rei baixar um edito que, qualquer pessoa que fizesse súplicas a qualquer divindade, exceto ao rei, em toda a extensão do império, que deveria ser lançada na cova dos leões. O rei, picado pela mosca azul da vaidade, assinou o edito irrevogável na lei dos medos e dos persas. Daniel, mesmo sabendo que estava proibido de orar ao seu Deus, não hesitou. Com janelas abertas para as bandas de Jerusalém manteve sua vida de oração inalterada. Era tudo que seus adversários políticos precisavam para denunciá-lo ao rei Dario. O rei percebeu que tinha sido vítima de uma armação, alimentada por um esquema corrupto. Porém, não podia retroceder. Daniel foi lançado na cova dos leões, mas Deus estava com Daniel na cova da morte para livrá-lo. Os corruptos foram desmascarados e lançados aos leões e devorados pelas bestas feras.
Um político honesto sobrevive aos ataques covardes dos corruptos, porque nada é mais poderoso do que a mentira, exceto a verdade. A verdade pode ser amordaçada e castigada por um tempo, mas sempre vence. A honestidade pode ser atacada por muitos adversários, mas sempre prevalece. A integridade pode ser ferroada pelo veneno da maldade, com a fúria dos escorpiões do deserto, mas sobrevive. Daniel triunfou sobre seus inimigos e seu compromisso inegociável com a integridade com a coisa pública, como o lábaro da integridade, tremulou no mastro do império medo-persa.
O Brasil precisa de políticos honestos que ousem peitar o sistema, que estejam dispostos a sofrer quaisquer retaliações sem se dobrarem aos interesses subterrâneos dos paladinos da corrupção, travestidos de beneméritos da nação. Que novos Daniéis se levantem nesse tempo, a fim de que a corrupção não se aninhe jeitosamente em nosso país! Que o Brasil seja salvo dos políticos corruptos e que nossa terra marche resoluta e sobranceira com ordem e progresso, a fim de que a verdade triunfe sobre a mentira, a justiça prevaleça sobre a injustiça e o sol da liberdade ilumine a todos os brasileiros.
Rev. Hernandes Dias Lopes