O Salmo 94 é anônimo e não sabemos exatamente a data de sua composição. Porém, sua mensagem é um veemente apelo à aplicação da justiça divina em face da clamorosa injustiça dos tribunais da terra. Os perversos estão oprimindo e até matando as viúvas, os órfãos e os estrangeiros e, ainda, escarnecendo da justiça, dizendo que Deus não vê suas atrocidades (Sl 94.3-7).
Nos versículos 20 a 23 deste Salmo, o salmista aborda três verdades solenes, que passo a discorrer:
Em primeiro lugar, Deus, o justo Juiz, é incorruptível (Sl 94.20,21). “Pode, acaso, associar-se contigo o trono da iniquidade, o qual forja o mal, tendo uma lei por pretexto? Ajuntam-se contra a vida do justo e condenam o sangue inocente”. O trono da iniquidade não tem compromisso com a verdade, não respeita a lei nem promove a justiça. Está rendido ao esquema do crime, protegendo os poderosos e condenando os fracos. Inocenta os culpados e condena os inocentes. O trono da iniquidade é um promotor do mal e não um protetor do povo. A lei é torcida para favorecer os interesses inconfessos e heterodoxos dos criminosos. Os juízes são subornados, as sentenças são vendidas, a justiça é comprada e, assim, o mal grassa e a opressão prevalece. O salmista, numa pergunta retórica, indaga: “Pode, acaso, associar-se contigo o trono da iniquidade?”. A resposta é um sonoro não. O juiz de toda a terra (Sl 94.2) é incorruptível e insubornável. Ele é irrepreensível em seu caráter e justo em suas sentenças. Sua lei jamais é torcida para favorecer os injustos ou negar o direito dos inocentes.
Em segundo lugar, Deus, o justo Juiz, é o refúgio do seu povo (Sl 94.22). “Mas o Senhor é o meu baluarte e o meu Deus, o rochedo em que me abrigo”. O salmista faz parte do povo que está sendo perseguido e oprimido pelos perversos. Os maus estão esmagando o povo de Deus e oprimindo sua herança (Sl 94.5). Eles matam os indefesos sem que estes lhes façam qualquer resistência (Sl 94.6). Sabem que serão protegidos e inocentados nas cortes, mancomunadas com seus delitos (Sl 94.20,21). Agora, não encontrando o amparo justo dos tribunais da terra, o salmista recorre a Deus, o seu Deus, que lhe serve de baluarte e rochedo, onde se abriga da avassaladora tempestade de perseguição dos perversos. Mesmo que a terra nos seja hostil, os céus nos serão obsequidosos. Mesmo que os homens nos cacem como uma fera persegue sua presa, encontraremos em Deus escape e verdadeiro refúgio.
Em terceiro lugar, Deus, o justo Juiz, condenará os ímpios (Sl 94.23). “Sobre eles faz recair a sua iniquidade e pela malícia deles próprios os destruirá; o Senhor, nosso Deus, os exterminará”. Os injustos tribunais da terra exigem que haja um tribunal justo. Aqui vemos um Herodes no trono e um João Batista na prisão; aqui vemos um Pilatos julgando e Jesus de Nazeré sendo julgado. Aqui facínoras são tidos por beneméritos e inocentes sofrem o rigor da lei. Porém, aqueles que, macularam sua toga e jeitosamente favoreceram os criminosos e aqueles que compraram os juízes por robustas somas de dinheiro para acobertar seus crimes, terão que encarar o reto Juiz. Tanto os malfeitores quanto os juízes que acobertaram seus crimes sob o manto da lei, serão destruídos e exterminados, quando Deus fizer cair sobre sua cabeça a violência que impuseram aos inocentes. Aqueles que criaram as leis, torceram as leis e escaparam dos tribunais da terra, jamais escaparão da justiça divina. Deus é uma pedra que transforma a arrogância humana em pó, mas, também, é o castelo forte de proteção para o seu povo.
Rev. Hernandes Dias Lopes
Foi escrito na época em que se matavam viúvas e órfãos e não temiam a Deus. Parece um Salmo de Davi, tamanha a confiança na Justiça de Deus, mas também, de alguém que esteve no Exílio, em terrãs pagãs.