“… eis que os céus e até o céu dos céus não te podem conter, quanto menos esta casa que eu edifiquei. Atenta, pois, para a oração de teu servo e para a sua súplica, ó. Senhor, meu Deus, para ouvires o clamor e a oração que faz, hoje, o teu servo diante de ti” (1Rs 8:27,28).
Salomão está liderando a cerimônia de consagração da Casa de Deus, o Templo de Jerusalém. Foram sete anos de construção. Tudo foi feito com excelência, com os materiais mais nobres, tendo à frente da construção, os trabalhadores mais experimentados. A arca da aliança já havia sido entronizada no lugar santíssimo, sob as asas dos querubins. Antes de Salomão fazer a oração consagratória, traz à memória duas verdades aparentemente paradoxais, a transcendência e a imanência de Deus. Vejamos:
Em primeiro lugar, a transcendência de Deus (1Rs 8:27). Habitaria Deus na terra? Habitaria Deus no Templo? Depois de compreender a singularidade de Deus, afirmando que não há Deus semelhante ao Senhor nem em cima nos céus nem embaixo na terra (1Rs 8:23). Depois de destacar a fidelidade de Deus, afirmando que não há Deus como o Senhor que guarda a aliança e a misericórdia para com o seu povo (1Rs 8:23b,24), Salomão agora, afirma que Deus é maior do que tudo quanto ele mesmo criou, declarando que nem o céu dos céus poderia contê-lo. Salomão está consagrando o Templo e mesmo sendo um palácio adornado de ouro, com rico mobiliário, tem consciência de que essa Casa não é suficiente para conter a Deus. Aliás nem o céu dos céus pode contê-lo. Deus é maior do que tudo o que existe. Ele transcende à criação. O apóstolo Paulo, na capital intelectual do mundo, a Atenas de Pérecles, Sócrates, Platão e Aristóteles, afirmou que Deus não habita em santuários feitos por mãos humanas (At 17:24). Deus não está preso dentro dos templos religiosos. Deus não precisa ser servido por mãos humanas. Na verdade, é ele quem a todos dá vida, respiração e tudo o mais. Nele vivemos, nos movemos e existimos. Ele, sendo o criador, é maior do que a criatura. Ele, sendo Espírito, não pode ser contido pelo material. Ele, sendo transcendente, não pode ser reduzido ao imanente.
Em segundo lugar, a imanência de Deus (1Rs 8:28). Salomão estava consciente de que o Templo que estava consagrando não poderia comportar o ser transcendente, mas não perdeu a percepção de que este Deus que está para além da última fronteira do universo, tem seus olhos voltados para o Templo e seus ouvidos inclinados à oração feita na casa de oração, pelo povo de Deus. O mesmo Deus que é maior do que tudo quanto existe, inclina-se para ver o que se passa entre os filhos dos homens. O mesmo Deus que não precisa da criação nem deriva dela glória alguma, tem seus ouvidos abertos às súplicas do seu povo. A Casa de Deus não pode conter a Deus, mas ele habita nessa casa. Os olhos de Deus veem os mundos estelares, mas também enxergam o aflito que se derrama em seu altar. Os ouvidos de Deus captam os sons das galáxias, mas também ouvem os gemidos abafados dos suplicantes. Ah, o Deus transcendente é, também, o Deus imanente. Aquele que está lá, mui distante a bilhões de anos-luz, está aqui, também, bem perto de nós. Os mais altos céus e os mais profundos abismos não poderiam afastá-lo de nós. Os confins da terra e os horizontes além-mar não poderiam impedir o alcance da sua mão sobre nós.
Que essas duas verdades aparentemente contraditórias nos acompanhem ao longo da nossa jornada de adoradores. Chegamos à Casa de Deus com a consciência de ele não habita em santuários feitos por mãos humanas, mas conscientes de que ele, que a tudo vê e a todos sonda, tem seus olhos postos em nós, para nos abençoar. Oh, que verdade sublime: Deus está tão longe e tão perto! Deus está absolutamente fora e absolutamente dentro! Deus está além do universo e dentro de cada coração que o teme e o ama. Deus
habita em luz inacessível e, também, com o abatido e contrito de coração. Ele é transcendente e, também, imanente.
Rev. Hernandes Dias Lopes
