O ÚLTIMO CONSELHO DE UM PAI

“Eu vou pelo caminho de todos os mortais. Coragem, pois, e sê homem!” (1Rs 2.2).

O grande rei Davi está no final da vida. Já velho e doente precisa passar o bastão do poder para seu filho Salomão. Externamente Davi havia triunfado sobre seus inimigos, ampliado as fronteiras de Israel e granjeado grandes fortunas. Porém, internamente Salomão precisava lidar com grandes desafios, especialmente, tirar de seu caminho, homens com muito poder e com escassez de caráter, homens que poderiam implodir o seu governo, tais como Joabe e Simei. Por questão de amor filial, não mencionou seu filho Adonias nem o sacerdote Abiatar. Salomão precisava de pulso para agir e sabedoria para fazer a coisa certa, na hora certa.

O texto em epígrafe, enseja-nos três lições:

Em primeiro lugar, a vida é breve e a morte é certa. Davi era um rei reconhecido dentro das fronteiras de Israel e respeitado fora de seus limites. Era um homem poderoso nas batalhas e vencedor nos combates. Era um homem rico e ainda carregava promessas grandiosas, feitas pelo próprio Deus. Porém, Davi era um homem sujeito às intempéries do tempo, surrado pelo peso dos anos, envergado pela velhice, a caminho da morte. Reconhece que não há como fugir da estrada que conduz à sepultura. Ele, assim como todos os demais homens, vai pelo caminho de todos os mortais. Se a vida tem suas incertezas, a morte é certa. Aos setenta anos, em virtude das muitas agruras vividas antes de ascender ao poder e dos muitos conflitos depois de subir ao trono, Davi era já um homem muito velho. A morte o espreitava e a sepultura estava bem à sua frente. A morte é democrática, pois chega para reis e vassalos, chefes e subalternos, ricos e pobres, velhos e jovens, doutores e analfabetos. A morte é o sinal de igualdade na equação da vida.

Em segundo lugar, os desafios da vida requerem de nós coragem. Ostentar a coroa real não garante ao regente higidez moral nem coragem para enfrentar os desafios da governança. Salomão enfrentaria perigos e ameaças em seu reino. Precisaria de firmeza pétrea, postura firme e coragem invergável diante das situações adversas ou mesmo de seus sentimentos turbulentos. Covardia não combina com quem ascende ao poder. O medo é a vestimenta dos covardes. Um reino não se estabelece quando falta ao rei fibra para agir. A coragem é o adorno da coroa real. É a força dos braços do governante. É o cetro do seu poder. Salomão não governaria com altivez sem o combustível da coragem. Ele não conduziria vitoriosamente os destinos da sua nação sem essa virtude cardeal.

Em terceiro lugar, os desafios da vida exigem de nós hombridade. Davi despede-se de seu filho e sucessor, com essas palavras: “Sê homem!”. Isso não significa ter músculos tonificados. Não significa ser truculento nos atos. Não significa ser másculo sexualmente. Ser homem vai além desses atributos. Ser homem significa ser comprometido com valores inegociáveis. Significa ser regido por vida ilibada, caráter impoluto e ética granítica. Ser homem significa ser íntegro nas ações, verdadeiro nas palavras e controlado nas reações. Ser homem significa honrar a Deus, servir ao próximo e não se capitular às paixões avassaladoras. Ser homem significa caminhar com altivez, cumprir o seu chamado com honradez e completar a sua carreira com fidelidade.

Salomão começou bem, mas infelizmente terminou mal. Descumpriu os preceitos divinos no que tange à realeza. Desviou-se pelos atalhos da desobediência. Curvou-se diante de deuses pagãos. Morreu no luxo, porém, sob as custas de um povo pobre. Seu filho e sucessor, Roboão, insensatamente não ouviu o clamor do povo e o reino foi rasgado, dividido e enfraquecido. Fica-nos o alerta: “Coragem e sê homem”!

Rev. Hernandes Dias Lopes

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