O sofrimento que Jesus Cristo suportou no Getsêmani é maior do que qualquer ser humano jamais sentiu. O Filho de Deus estava no meio das oliveiras daquele jardim passando pela prensa do juízo divino. Ele suou sangue, pois ali viu o prelúdio da cruz, quando seria traspassado pelas nossas transgressões e desamparado por Deus. Beberia o cálice amargo da ira divina contra o pecado e sofreria o golpe da lei, morrendo em lugar dos pecadores. No Getsêmani, Jesus não ocultou sua dor, antes admitiu-a para si mesmo e a expressou para seus discípulos e para o Pai. Vejamos como Jesus lidou com a dor da sua alma.
Em primeiro lugar, Jesus admitiu sua dor para si mesmo (Mt 26.37). “E, levando consigo a Pedro e aos dois filhos de Zebedeu, começou a entristecer-se e a angustiar-se”. É muito importante entender que o sofrimento de Jesus foi só dele. Foi sofrimento vicário, substitutivo. Ele não apenas esteve entre nós, mas, também, sofreu por nós. Ele veio não apenas para estar ao nosso lado, mas, também, para assumir o nosso lugar. Quando, porém, travou aquela amarga luta no jardim do Getsêmani, sua alma foi invadida de tristeza e angústia. Jesus não escondeu sua dor. Não ocultou seu drama. Essa atitude pode muito nos ensinar. Não precisamos esconder as dores que pulsam em nossa alma e latejam em nosso coração. É necessário dizer que está doendo. É preciso espremer o pus da ferida. Não podemos amordaçar a nossa voz quando entramos no Getsêmani da nossa vida.
Em segundo lugar, Jesus admitiu sua dor para os outros (Mt 27.38). “Então, lhes disse: A minha alma está profundamente triste até à morte; ficai aqui e vigiai comigo”. Jesus falou muitas coisas para a multidão. Quando falou sobre o traidor, compartilhou isso apenas para os discípulos, mas quando a tristeza avassaladora e a angústia de morte invadiram sua alma, no Getsêmani, compartilhou essa dor apenas para o núcleo mais achegado dos seus discípulos, Pedro, Tiago e João. Jesus nos ensina a compartilhar nossa dor, mas não com todas as pessoas, mas apenas com aquelas que nos são mais achegadas. Jesus, mesmo sendo o Filho de Deus, pediu a companhia dos seus discípulos e exigiu deles vigilância. Não basta admitir nossa dor apenas para nós mesmos, precisamos compartilhá-la. No caso de Jesus, ele não encontrou a solidariedade dos seus discípulos mais achegados. Eles dormiram enquanto Jesus suava sangue. Eles não oraram nem vigiaram enquanto o Filho de Deus travava a mais decisiva batalha da humanidade. Nós precisamos de amigos ao nosso lado quando nossa alma é fuzilada pela dor e quando as sombras da morte caem sobre nós.
Em terceiro lugar, Jesus admitiu sua dor para o Pai (Mt 27.39). “Adiantando-se um pouco, prostrou-se sobre o seu rosto, orando e dizendo: Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice! Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres”. Jesus não apenas admitiu sua dor para si mesmo e para seus discípulos, mas, também, admitiu-a perante o Pai. Não apenas abriu seu coração aos homens, mas, também, a Deus. Jesus enfrentou seu sofrimento não com murmuração, mas com oração. Lidou com sua dor não para evadir-se da vontade do Pai, mas para realizá-la com plena submissão. Suou sangue no Getsêmani não para fugir da cruz, mas para marchar para ela como um rei caminha para sua coroação. Aprendemos com Jesus que devemos levar nossas dores e colocá-las nas mãos do Pai. Aprendemos que, em nossas angústias, precisamos fazer a vontade do Pai e não a nossa. Aprendemos que quando nos curvamos humildemente diante de Deus levantamo-nos corajosamente diante dos homens. Aprendemos que pela oração triunfamos sobre a tristeza mais cruel e sobre a angústia mais avassaladora.
Rev. Hernandes Dias Lopes