“… e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha?” (Ester 4.14b)
O livro de Ester foi escrito, provavelmente por Mordecai, durante o período do império medo-persa. O livro tem como foco o livramento de Deus de um genocídio já lavrado sobre o povo judeu, que vivia no exílio. O rei Assuero, ou Xerxes I, estava no seu sétimo ano de reinado. O maioral da corte, o amalequita Hamã, por odiar Mordecai, primo da rainha Ester, tramou a morte de todos os judeus, de todas as províncias do império. Assuero, com muito poder, mas com personalidade fraca, foi induzido pelo seu mais alto oficial, a angariar fundos para o tesouro, varrendo do mapa o povo judeu, que se espalhava por todo o seu vasto império. A sentença de morte foi lavrada e selada com o sinete do rei. Os emissários se incumbiram de entregar a notícia do extermínio em todos os rincões do império persa.
Quando Mordecai toma conhecimento da tragédia lavrada sobre seu povo, rasga suas vestes, veste-se de pano de saco e se cobre de cinzas, postando-se na porta do palácio. Logo que Ester tomou conhecimento dessa sentença de morte contra seu povo, sentiu-se de mãos amarradas, porque ela só podia ter acesso ao rei, se para isso fosse convocada; ademais, a lei dos medos e dos persas não podia ser revogada. Mordecai, porém, alertou-a que omitir-se naquela hora decisiva era lavrar a própria sentença de morte contra o povo judeu e o efeito colateral seria a própria morte da rainha. Mordecai, também, encorajou Ester a ser a protagonista dessa ação de resgate do povo judeu, dizendo: “… e quem sabe se para conjuntura como esta é que foste elevada a rainha” (Ester 4.14). Ester então, assume a liderança nessa conjuntura, conclama um jejum de três dias e toma a decisão de ir ao encontro do rei, mesmo sabendo que poderia enfrentar a própria morte ao quebrar o protocolo. Sua decisão foi heroica. Ela disse: “… eu e minhas servas também jejuaremos. Depois, irei ter com o rei, ainda que seja contra a lei; se perecer, pereci” (Ester 4.16).
Deus reverteu a situação. A trama de Hamã caiu sobre sua própria cabeça. Os judeus que deveriam ser mortos foram poupados e Hamã, o homem que tramou a morte deles, pereceu. A forca que Hamã construiu para matar Mordecai, tornou-se o seu próprio patíbulo de morte. Ele intentou saquear os judeus, mas foram os bens de sua casa que foram transferidos para Ester, uma judia. Hamã, sendo amante do prestígio, teve que conduzir Mordecai, em alta honraria pelas ruas de Susã. O lugar de honra que Hamã ocupava, foi dado a Mordecai, enquanto Hamã foi enforcado e sua família caiu em opróbrio. Os judeus que deveriam ser exterminados por todo o império, lutaram e venceram. O livro que começou com os banquetes de reis e rainhas, termina com a festa de Purim, a festa do povo de Deus, celebrando a vitória de Deus.
Embora o nome de Deus não apareça no livro de Ester, sua providência é visível e eloquente. A mão da providência divina está por trás dos grandes acontecimentos. As rédeas da história não estão nas mãos dos poderosos deste mundo, mas nas mãos do Todo-poderoso Deus. Os reis ascendem ao poder e são apeados do poder, mas o nosso Deus reina sobranceiro e vitorioso pelos séculos sem fim. A história não está à deriva porque as circunstâncias se tornam adversas. A providência pode ser carrancuda, mas a face de Deus é sorridente. O livro de Ester, de forma magistral, mostra como Deus entra na história, muda o placar do jogo, vira a mesa e transforma tragédia em triunfo e derrota em consagradora vitória.
Hernandes Dias Lopes